O jornal Cyprus Weekly publicou o artigo do Professor de Economia Política Andreas Theophanous que aqui reproduzimos refletindo sobre as conversações que recomeçam esta semana na Suíça.
 

Nos últimos anos, a comunidade internacional investiu muito capital político no processo de resolução do problema de Chipre, bem como para servir objetivos mais amplos no Mediterrâneo Oriental. O último inclui a necessidade de cooperação multilateral no Mediterrâneo Oriental para a energia e questões de segurança com a participação da Turquia. Adicionalmente os países ocidentais acreditam que esse desenvolvimento eliminará um obstáculo nas relações entre a UE e a OTAN, ao mesmo tempo que a influência da Rússia na região será reduzida. Além disso, uma solução para o problema de Chipre em tempos de turbulência e conflito regionais será considerado um sucesso para a ONU e a para a comunidade internacional.
 

Consequentemente não surpreende que o SG da ONU, Antonio Guterres, anuncie uma nova conferência de cinco partes em Genebra, apesar de se manterem ainda sérias divergências entre os dois lados em Chipre assim como entre a Grécia e a Turquia.
A conferência está programada para começar em 28 de junho. A União Europeia estará presente apenas como observador.
 

Até o momento persiste uma distância significativa a ser coberta entre as duas partes. Além disso é preciso abordar áreas cinzentas em torno de aspetos cruciais, em grande parte resultado da estratégia de ambiguidade da ONU para conter desentendimentos entre os dois lados. Recordemos que as mesmas táticas foram usadas pela ONU aquando do Plano Annan em 2004.
 

É reconhecido tanto em Chipre como no exterior que não foi feito muito trabalho visando o dia seguinte a uma solução. Por exemplo, ainda há muito trabalho a fazer sobre as repercussões económicas. Também não foram considerados possíveis riscos de desestabilização. Além das divergências, existe uma grande desconfiança entre os dois lados e o que é ainda pior é não existir uma estrutura mínima de objetivos comuns.
 

Note-se, a este respeito, que o sistema político em Chipre teve ao longo do tempo como prioridade evitar responsabilizar as Nações Unidas. Um efeito colateral foi que isso obscureceu a essência do conflito.
 

Se, como resultado da nova Conferência de Genebra/Crans-Montana, for encontrado um quadro de solução, provavelmente haverá uma nova disputa entre os cipriotas gregos como em 2002-2004.
 

Nesse caso não pode ser descartada uma nova rejeição em referendo dadas as posições da Turquia que inevitavelmente influenciam o resultado.
Estes incluem os arranjos de segurança, a substituição da República de Chipre por uma nova estrutura estatal e presidência rotativa. Mesmo que tal acordo seja aprovado em referendo é muito possível que o status quo atual possa piorar com efeitos desestabilizadores.
 

Em resumo, a narrativa discutida atualmente sobre a federação bicomunal e bizonal que enfatiza a reunificação, a paz e o crescimento económico robusto, é potencialmente muito caro. Chegou a hora de que isso seja reavaliado com pragmatismo e livre de ilusões ideológicas.
 

Devemos ter em mente que abordar questões de governação em estados com duas ou mais etnias é uma questão crítica na política internacional. Nos casos em que os modelos constitucionais foram escolhidos com base em pilares de nacionalismo étnico, o resultado geral é bastante negativo. A Bósnia, o Líbano e até a Bélgica são casos típicos. Chipre deve levar isso em consideração séria e pensar sem constrangimentos.
 

Na verdade existem sérias dúvidas sobre se é possível chegar a uma solução abrangente nas circunstâncias atuais. Dado o nível elevado de desconfiança entre as duas comunidades em Chipre, a abordagem diferenciada em várias questões, bem como o papel esmagador da Turquia, será útil e conveniente considerar seriamente um processo evolutivo. Isso pode incluir a implementação do acervo comunitário na parte ocupada de Chipre, o retorno de Famagusta sob os auspícios da ONU e da UE, medidas adicionais para reforçar a confiança, bem como abordar questões energéticas no Mediterrâneo Oriental com a participação da Turquia e no âmbito da normalização das relações com a República de Chipre.
 

Consequentemente, o objetivo não deve ser declarar um impasse ou acabar com uma solução sem perspetivas razoáveis de viabilidade e sucesso. Esta abordagem é simplificada e desnecessária.
 

O Professor Andreas Theophanous é Presidente do Centro de Assuntos Europeus e Internacionais da Universidade de Nicosia.
 

Cyprus Weekly 23 de Junho 2017