O Presidente da República de Chipre, Nicos Anastasides, reuniu-se no dia 11 de Fevereiro na zona sob controlo das Nações Unidas com Dervis Eroglu, líder da comunidade Turco-Cipriota. Os dois líderes concordaram na elaboração de uma declaração conjunta para o reinício das negociações com vista a resolver o problema de Chipre.
As negociações foram interrompidas em 2012 por parte da Turquia quando a República de Chipre assumiu a Presidência da União Europeia.
 

A declaração conjunta dos líderes das duas comunidades estabelece o enquadramento e os princípios fundamentais de uma solução. Conforme sublinhou o Presidente Anastasiades «é o início de um grande esforço para alcançar os objetivos pretendidos, para acabar com uma situação inaceitável que vem mantendo a ilha e nosso povo divididos há 40 anos».
O Presidente sublinhou que a solução se deve basear nas resoluções da ONU de modo que a República de Chipre possa evoluir para um Estado Federal bicomunal expressando o seu otimismo numa solução sem vencedores nem vencidos. O reinício das negociações conduzidas pela ONU ocorre após meses de discussões entre os negociadores dos dois lados sobre o texto de um projeto de declaração conjunta.

A República de Chipre, dividida desde a invasão turca de 1974, é um Estado membro de pleno direito da União Europeia desde 2004.
 
Declaração Conjunta

1. O status quo é inaceitável e o seu prolongamento terá consequências negativas para os cipriotas-gregos e cipriotas-turcos. Os líderes concordam que um acordo teria um impacto positivo em toda a região beneficiando os cipriotas-turcos e os cipriotas-gregos, respeitando os princípios democráticos, os direitos humanos e liberdades fundamentais assim como a identidade e integridade de cada comunidade e assegurando o seu futuro comum num Chipre unido no seio da União Europeia.

2. Os líderes expressaram a sua determinação em retomar as negociações com vista à obtenção de resultados. Todas as questões fundamentais não solucionadas estarão sobre a mesa e serão discutidas de forma interdependente. Os líderes terão como objetivo chegar a um acordo o mais rapidamente possível e realizar depois um referendo em simultâneo em cada comunidade.
3. O acordo será baseado numa federação bi-comunal e bi-zonal com igualdade política conforme previsto nas Resoluções do Conselho de Segurançada ONU e nos acordos de alto nível. Chipre reunificado, como membro das Nações Unidas e da União Europeia, terá uma única personalidade jurídica internacional e uma única soberania que é definida como a soberania reconhecida por todos os Estados membros das Nações Unidas nos termos da Carta das Nações Unidas.
Haverá uma única cidadania regulamentada por lei federal.
Todos os cidadãos de Chipre unificado serão igualmente cidadãos do Estado constituinte cipriota-grego ou do estado constituinte cipriota-turco. Este estatuto é interno e é complementar não substituindo de modo algum a cidadania de Chipre unificado.
Os poderes do governo federal e as questões que são claramente relacionadas com as suas competências específicas serão atribuídos pela Constituição.
A Constituição Federal também regulará os poderes residuais a serem exercidas pelos estados constituintes. Os estados constituintes exercerão plenamente e de forma irrevogável todos os seus poderes sem intervenção do governo federal.
As leis federais não atentarão contra as leis estaduais constituintes dentro da área de competências dos estados constituintes e as leis dos estados constituintes não atentarão contra as leis federais no âmbito das competências do governo federal. Qualquer disputa a tal respeito será julgada pelo Supremo Tribunal Federal. Nenhuma das partes pode reivindicar autoridade ou jurisdição sobre a outra.
4. A Federação de Chipre unificado resultará do acordo após a aprovação da resolução em referendos simultâneos e separados. A Constituição Federal deve determinar que a Federação Unida de Chipre será composta por dois estados constituintes de igual estatuto. A natureza bi-comunal e bi-zonal da Federação e os princípios nos quais se funda a UE serão salvaguardados e respeitados em toda a ilha. A Constituição Federal é a lei suprema do país e será vinculativa para todas as autoridades da Federação e dos estados constituintes. Fica proibida a união, no todo ou em parte, com qualquer outro país ou qualquer forma de partição ou secessão ou qualquer outra alteração unilateral.
5. As negociações assentam no princípio de que nada está acordado até que tudo esteja acordado.
6. Os representantes designados são inteiramente competentes para discutir qualquer assunto em qualquer momento e devem gozar de acesso a todas as partes interessadas no processo conforme a necessidade. Os líderes das duas comunidades reunirão sempre que necessário. Eles detêm o derradeiro poder de decisão. Só um acordo livremente alcançado pelos líderes pode ser colocado a referendo. É excluído qualquer tipo de arbitragem.

7. As partes procurarão criar um clima de confiança para garantir o sucesso das negociações. Comprometem-se a evitar troca de acusações ou outros comentários públicos negativos sobre as negociações. Também se comprometem a esforços para implementar medidas de confiança que irão proporcionar um impulso dinâmico para alcançar um Chipre unido.
 

Presidente da República Sobre a Declaração Conjunta

O Presidente da República de Chipre, Nicos Anastasiades, disse que os objetivos que abriram o caminho para o relançamento das negociações sob os auspícios da ONU foram completamente alcançados através da declaração conjunta.
O Presidente acrescentou que o acordo estipula que as negociações serão realizadas entre as duas comunidades de Chipre e não entre dois Estados soberanos existentes como Dervis Eroglu vem ainda afirmando. Além disso garantiu que não foram feitas promessas em troca de abrir novos capítulos nas negociações de adesão da Turquia à UE até que Ancara cumpra as suas obrigações.
Sobre o papel da Grécia no processo o Presidente de Chipre observou que Atenas terá um papel de apoio observando que não é a Grécia que ocupa Chipre mas a Turquia.
Sobre o envolvimento da comunidade internacional o Presidente disse que o papel da União Europeia , EUA e outros países, como Rússia, França e Alemanha, é favorável acrescentando no entanto que o processo decorre sob os auspícios da ONU.
O Presidente Anastasiades disse ainda que uma solução para Chipre terá um efeito estabilizador na região e que um acordo contribuirá para a evolução da economia do país.
 

Referindo-se à Declaração Conjunta o Ministro da Defesa Photis Photiou disse que Chipre permanece firme em todas as questões referentes à sua soberania como Estado membro das Nações Unidas.
 

ONU

O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, enviou uma carta no dia 11 de Fevereiro ao Presidente Nicos Anastasiades felicitando-o pelo acordo alcançado entre os líderes cipriota-gregos e cipriotas-turcos que resultou numa declaração conjunta que marca a retomada das negociações em Chipre.
O negociador cipriota-grego para as negociações, Andreas Mavroyiannis, e o negociador cipriota-turco, Kudret Ozersay, concretizaram entretanto a sua primeira reunião que decorreu na área protegida da ONU do antigo aeroporto de Nicosia na presença de Lisa Buttenheim, Representante Especial do SG das Nações Unidas em Chipre.

Chipre foi dividido no verão de 1974 quando tropas turcas invadiram e ocuparam cerca de um terço do norte da ilha.