
Depois das influências greco-romanas, cristã e otomana Chipre foi cobiçado no século passado pelo Reino Unido, Grécia e Turquia. Chipre continua no centro da luta pelo controlo do Mediterrâneo e mais precisamente da sua importante região oriental. Na atualidade Chipre é alvo dos interesses geoestratégicos da União Europeia e da Rússia que encontrou na crise financeira que afeta este membro da Comunidade Europeia uma boa oportunidade para estender a sua influência e ao mesmo tempo humilhar a própria União Europeia incapaz de lidar de forma rápida e acertada com a situação.
O insucesso do processo de resgate financeiro, com a eventual saída de Chipre da eurozona, poderia conceder a Moscovo um papel decisivo. Num tal cenário o governo cipriota não teria outra alternativa senão voltar-se para a Rússia que se apresentaria então como a única solução viável. Não seria difícil antever que Moscovo apresentaria nessa ocasião algumas contrapartidas importantes como, por exemplo, a concessão de uma licença para instalação de uma base naval em Chipre. A Rússia concretizaria assim o seu plano para reforçar a presença militar no conturbado Médio Oriente proporcionando ainda ao país aliado uma garantia contra agressões externas que o Ocidente não quer assumir expressamente ao não permitir a adesão de Chipre à NATO em virtude do veto da Turquia que continua a ocupar um terço do território do norte de Chipre.
Neste cenário os interesses económicos seriam obviamente incluídos desde logo com a empresa estatal russa Gazprom a poder retirar benefícios da exploração das reservas de gás do país.
Ao contrário do que parece ter pensado a elite tecnocrata europeia esta crise não afeta apenas um pequeno Estado membro. A crise financeira manifesta claramente um efeito muito contagioso e explosivo com impacto especial nos países do Sul da Comunidade, Itália, Espanha, Grécia e Portugal.
Para quem ouve as notícias tranquilizadoras que as nossas autoridades emitem, designadamente a propósito da salvaguarda dos depósitos dos nossos cidadãos, convém não esquecer que o Ministro das Finanças Vítor Gaspar também votou favoravelmente o imposto absurdo penalizando as pequenas poupanças nos bancos cipriotas.